domingo, 8 de março de 2009

Diário de Bordo - As Quebradas do Grande Circo Mundaréu

OBS: Vale a pena ressaltar que estou cuidando de escolher imagens no Google que sejam inspiradoras (postadas no meu orkut http://www.orkut.com.br/Main%20/%20AlbumList.aspx?uid=5071373925984636397). Tenho pensando em dinâmicas de trabalho a serem desenvolvidas no decorrer do processo de montagem. Este é só o começo deste grande desafio, que os deuses da arte estejam torcendo por nós. A montagem segue a linha colaborativa.Humor Destruição – Humor do fim dos tempos (Palhaço, bufões e ritual) Estou tendo o privilegio de contar com alguns amigos, colaboradores importantes neste trabalho. Além das pessoas que vão nos encontrar sempre, conto com orientação a distancia, um destes ilustres é o Fernando Lomardo que tem colaborado com desenhos de propostas para o cenário. Obrigado a todos.

Segunda feira - 03/11

Chegada em Belo Horizonte - o trabalho já havia começado a cerca de um mês. Dora e Luciana permaneceram em BH lendo alguns textos enquanto eu, do Rio, ficava por conta de fazer uma pesquisa solo entorno da vida de Plínio. Neste período consegui o dinheiro para a montagem (cinco mil) e desenhei muitos cenários, pois gosto de pensar a estética do espetáculo antes mesmo de ter um espetáculo. Ao chegar em BH, fizemos uma reunião para estabelecer certas diretrizes básicas, como, horário de ensaio e tudo que nos móvel até este momento. Decidimos começar os ensaios em sala somente na segunda dia 09/11. Temos que ser bastante organizados na produção, pois os dinheiro é pouco e a vontade é muita.

Terça Feira - 04/11

Levei as atrizes para dar uma volta na rua, nada tão simples assim. Saímos os três pelas ruas, e fomos nos revezando com venda nos olhos enquanto os outros dois que sobravam iam guiando o cegueta pelas ruas de BH. Foi um barato este primeiro dia, levei as duas até o espaço onde, provavelmente serão nossas apresentações. Uma praça que tem um teatro de arena, na Av Brasil. O exercício de vendar os olhos e ser guiado tem vários motivos, um é a confiança que se ganha no outro que te guia, a outra é a expansão da escuta do corpo, outros sentidos aflorados além da visão. Foi muito interessante para o início. Teremos ainda que repetir este exercício mais uma vez, sempre variando as possibilidades do se estar cego na rua. A outra coisa é que gostaria que em algum momento, uma das duas, se não as duas ficassem cegas no trabalho, com vendas no olhos tendo que cumprir funções no palco.“As justiça é cega”

Quarta Feira - 05/11

Nos encontramos na centro de pesquisa do Galpão Cine Horto para ler o Texto de Beckett, “Esperando Godot”, um texto que tem haver como base de Plínio, uma linguagem muito próxima do palhaço, com diálogos curtos. Achei que seria interessante ler outros autores. Também vimos uma entrevista que Plínio Marcos deu nos anos 90, para o programa Cena Aberta. Foi muito bom ver mais de perto como pensa o autor que estamos pesquisando, não se trata só da obra, mas do artista, principalmente.

Quinta Feria - 06/11

Nos encontramos na casa da Dora, para ver alguns vídeos que encontrei no You Tube e terminar de ler Esperando Godot. Achei alguns vídeos interessantes, foi bom ver diversos Plínios. Não conseguimos terminar a Leitura de Beckett.

Sexta Feira - 07/11

Encontrei a Maíra (Preparadora corporal) e Gyu (Preparadora de Palhaços), foi uma noite de encontros. Falei sobre o espetáculo e elas toparam felizes. Combinamos que as Segundas-Feiras ficaria reservado para o trabalho com a Gyu, as Quinta-Feira para Maíra e as Sextas comigo. Fechamos tudo direitinho e já começaremos na próxima segunda.

Segunda Feira - 10/11

Nos encontramos as 09:30h no Cine Horto para o primeiro dia de trabalhos em sala. Fiz a abertura dos trabalhos. Começamos com um exercício em roda de respiração (um tempo, respira luz e solta preto), depois limpamos a sala com panos umedecidos em água limpa. Faremos este rito de limpeza a cada dia, isso ajuda a concentrar e a deixar o dia lá fora, preparar o artista para o trabalho de criação. Depois nos entregamos nas mãos talentosas de Gyu que conduziu nós três a uma viagem ruma ao encontro do palhaço de cada um de nós (Tudo ainda no início). Ela começou com um exercício muito simples de concentração. Apesar da simplicidade exigiu de nós um certo esforço para executar. Depois fomos fazer um trabalho na linha do siga o mestre. Tomei muitas pandeiradas por falta de atenção. Depois fizemos um trabalho de presentificação através do olhar. Conversamos um pouco e ai entramos no trabalho com objetos que deveriam ser transformados em outras coisas, com outra utilidade que não aquela para qual foram criados. Depois as duas, Lu e Dora, fizeram um exercício muito interessante chamado Duas Perdidas Numa Noite Suja, trata-se de uma disputa para se sentar numa única cadeira, mas o objetivo do desejo de se sentar encontra o jogo com o outro, um exercício de improvisação que coloca o ator em estado de atenção no jogo, aceitando e propondo possibilidades. Depois conversamos sobre as escolhas. A Gyu leu uns textos para nós sobre o universo do palhaço. Temos que levar um objeto para o próximo encontro, um objeto que signifique algo de especial para nós. Hoje foi um primeiro dia de ótimas descobertas e experiências, temos um desafio grande pela frente, mas se as coisas continuarem desta maneira será um prazer enorme para todos nós.Sigamos.

Quinta Feira – 13/11

Hoje nos encontramos com a Maíra, que vai preparar as meninas através da capoeira. Vou fazer aqui uma defesa, a capoeira deveria ser obrigatória na preparação dos atores, as escolas de teatro poderiam usar essa dança/jogo/luta para trabalhar corpo, atenção, olhar, relação... Começamos do início (sempre), ainda conhecendo as primeiras técnicas, como a ginga, um ataque e uma defesa e o giro do corpo, só isso já nos fez descobrir que a capoeira é cênica, uma dança de improviso fantástica. Vamos utilizar muito da capoeira no nosso espetáculo. O que me interessa na capoeira: O jogo – olhos e corpos – atenção no outro, improviso, escuta, um corpo que reage.Coreografia – a dança, o ritmo, a vitalidade dos corpos em ação de dança, de jogo, estética, a ginga da malandragem.O tonos muscular – O alongamento, a virilidade, a atenção do corpo, as possibilidades do corpo em alerta.
A mulher na capoeira? Que tipo de coreografia pode surgir?
Teatro de Rua – Roda, jogo, + é menos, atenção é redobrada. (capoeira) A maldade, a malícia, respiração, volta ao mundo.
Hoje tentamos ler um texto que a Gyu separou pra gente, não conseguimos sair do início. Mas foi ótimo.
Obs.: No sábado, encontrei o Fernando Muzzi, que foi convidado por mim para dirigir a música do nosso espetáculo, ele me fez boas colocações sobre o papel do diretor musical e as decisões a serem tomadas. Disse que estaria no projeto, na pratica, a partir do dia 15 de Janeiro e que até lá seria importante que as meninas tivessem aulas de ritmo e instrumentos, como tambor, agogô, pandeiro...A Gyu sugeriu uma amiga dela, a Milagros, que hoje (13/11), foi nos encontrar no espaço, ela tá com agenda cheia, mas conseguiu um buraco na sua agenda e fará sua oficina com a gente nos dias 20 e 27/11. Bacana.

Sexta Feira - Dia 14/11

Não foi possível ensaiar pois as meninas teriam ensaio pela manha da apresentação que terão do Arande no Sábado. Mas consegui marcar na parte da tarde um encontro com o Moacir que vai fazer um Workshop de Ações Performáticas. Foi ótimo, ele trouxe alguns textos e conversamos bastante sobre o espetáculo e sua contribuição. Falamos da arquitetura urbana, sobre caixas, gavetas, cubos, Artaud... Ele falou de sua experiência como diretor em um laboratório feito na UFOP, a experiência chamava-se “Pão Circo Excremento”, que tem uma temática muito próxima da que vamos abordar no nosso espetáculo... Depois fomos todos ver um pouco do filme deste trabalho gravado por ele. Eles trabalharam muito a questão do teatro ritual, desta maneira ritualística de entrega, de utilização dos corpos, da musica, do espaço... Haviam muito cubos, velas, incensos, e a cada momentos eles iam modificando o espaço através dos cubo, que eram movimentados. A idéia de Moacir é fazer a performance que é uma obra aberta contribuir para o espetáculo que uma obra fechada. Ele deixou alguns textos teóricos comigo, são eles: Signos e códigos abertos - sobre performance, Espaço e Encenação em Jogo, uma pagina de um livro do Arthur Barrio sobre os 30 espaços propostos por Arthur e Teatro e Ação Ritual de Artaud. Vale registrar que este workshop vem para acrescentar muito ao nosso processo, estamos todos felizes com os encontros que já se mostram tão produtivos. Marcamos com o Moacir para a próxima Quarta Feira, uma ida a cidade com as meninas com indicações especificas de Moacir.Saliento ainda, que nesta fase do projeto, sou o cozinheiro que começa a preparar a feijoada. Estou juntando os ingredientes e escaldando as carnes, logo é fogo na panela de pressão e controlando o tempo de cada coisa no seu lugar, espero que todos possamos comer no final uma feijoada dos deuses.

Segunda Feira - Dia 17/11

Segundo encontro da oficina de palhaço. Nos chegamos as 9:30h, fizemos nosso rito de iniciação dos trabalhos e fomos para o trabalhos de concentração em jogo (Eu bato nas costas de alguém, esse alguém fala o nome de um de nós que vai bater nas costas de outro e daí por diante) um exercício simples mas que exige de nós atenção, foi bem melhor que da primeira vez. Estamos ficando mais espertos. Depois a Gyu comandou “O Mestre Mandou” e levei algumas boas pandeiradas por falta de atenção, sempre eu. Rsrsrsrs. (Quando o comando vem precedido de O Mestre Mandou, todos nós fazemos a ação comandada, quando vem um comando sem O Mestre Mandou, quem fizer ganha uma pandeiradas), esse exercício é bom porque além de trabalhar a atenção em jogo, aquece. Depois fomos fazer um exercício de caminhada reparando os corpos, enquanto um caminhava os outros reparavam as características do caminhante, que deveria exagerar a cada reparada nosso... Depois um ator tentava, com o máximo de cuidado, imitar a caminhado do observado, depois mostrava isso para a pessoa que se via no outro. Depois fizemos um exercício complexo de auto conhecimento e exposição. Enquanto um refletia os movimentos do outro como no espelho, um terceiro, ia perguntando sem parar o que quisesse, perguntas pessoas, profundas, vazias, todo tipo de pergunta, um bombardeio direcionadas a quem estava refletindo no espelho, então o sujeito iria se concentrar em imitar a outra pessoa e ainda responder algumas questões. Foi ótimo. Na seqüência, ainda respondendo as perguntas, a pessoa sentava para desenhar alguma coisa que tivesse afinidade. Foi maravilhoso este momento, nos conhecemos melhor. Depois fomos para um pequeno intervalo. No retorno, fizemos o exercício com aquilo que gostamos ou fazemos muito bem, cada um mostrou aquilo que faz muito bem. Depois cada um pegou o objeto que trouxe, como algo de carinho, de lembrança e tinha que ir no centro da sala e tentar passar sem palavras esta relação de afeto com o objeto escolhido. Foi muito difícil, a gente ainda se defende muito. Mas chegamos a conclusão que é normal, tudo sempre começa do zero e nosso processo não poderá ser diferente. Mas estamos sendo estimulados para que tudo isso desapareça e que antes de por a mascara de palhaço temos que tira nossas mascaras outras e se mostrar verdadeiro. Depois conversamos sobre os resultados do dia e é sempre bom conversar, a gente troca bastante. A oficina acabou e fomos pra casa com gostinho de quero mais. A Gyu passou mais trabalho pra casa, temos que levar para o próximo encontro, uma história autobiográfica que vamos escrever direto sem parar, a idéia é não parar de escrever quando começar, ir direto, se errou, escreve que errou e parte pra frente.Hoje foi nosso primeiro dia de Capoeira na Bantus Academia de Capoeira.
Foi bom demais, fomos eu, Dora e Lu, as 18h para academia. Faremos, pelo menos, 03 vezes por semana, para complementar a oficina da Maíra que será as Sextas no Cine Horto e não as Quintas. Eu sei que hoje eu estou todo quebrado, fazia tempo que não fazia tanto esforço. A Dora lutou Capoeira e tem um ótimo desempenho, mas eu e Lu não ficamos atrás não... Estamos felizes com tudo.

Terça Feria - Dia 18/11

Marquei com a Kátia Couto em sua casa as 13:30. Peguei um ônibus na Savassi e fui lá pra conversar com nossa preparadora vocal, um luxo este nosso trabalho. Cheguei lá e foi lindo demais, a Kátia é uma maravilha de profissional, tem uma ótima experiência na área teatral, é fonoaudiólogo, cantora e esta super curtindo fazer parte. Falamos bastante sobre como serão os passos e decidimos que ela fará este ano um trabalho técnico com as meninas, todas as quintas a partir do dia 04/12, serão 3 encontros este ano. No dia 04 as meninas apresentarão para ela uma cena em dupla e uma musica individual. Foi um ótimo encontro e certamente vai acrescentar ao nosso feijão um tempero especial.Saí da Kátia e vim caminhando até a Savassi, levei uma hora e meia de caminhada. Foi ótimo para pensar algumas coisas e por a cabeça nos trilhos. Cheguei em casa e a Lu estava aqui com a Dora. Pedi as duas que preparassem uma cena e uma música cada para o dia 04/12. Para a cena sugeri um tema: “O Parto de Querô”, Dora escreverá um texto para que as duas criem a cena. Eu vou assistir e convidarei, além da Kátia, alguns amigos. Teste de fogo para as meninas.

Quarta Feira – Dia 19/11

Eu, Dora e Lu, fomos para capoeira... Foi no segundo dia... de moer... muito bom pra cuca e para o corpo... Mas ficamos moídos.

Quinta-Feira – Dia 20/11 – dia da consciência negra – Viva Zumbi!

Acordei cedo e fui andando até o cine horto, uns 40 minutos de caminhada. Foi nosso primeiro encontro com a Milagros que está ministrando uma oficina de ritmos e sons. Chegamos, aquecemos o corpo e a Milagros começou com um exercício de pulsação batendo com os pés no chão de madeira, marcando 4 tempos. Íamos alternando com as palmas, no tempo 2, no 3 e no 4... andando pela sala... foi bacana... Depois fizemos uma coisa de percussão no corpo, testando sons em varias partes e improvisando no tempo. Às vezes imitávamos o som criado pelo coleguinha, reproduzindo o que ele criou. Foi muito bom... depois fomos para o maracatu, com os fonemas de vários instrumentos: um cantava (no tempo) “Bom, cantar, cantar é Bom”, o outro cantava “Um pra cá, um pra lá” e o outro cantava “Pra lá pro samba, vou sambar vou pra lá pro samba”... sempre repetindo sobe a regência de Milagros, pois as vezes trocávamos as frases no circulo. Depois fomos trabalhar com as figuras geométricas que representam vários tempos, ex.: Circulo é um tempo, dois círculos são dois tempos, triangulo são três tempos e por ai vai. A gente tinha que bater palma só no primeiro tempo de cada, muito difícil este exercício, mas ótimo pra trabalhar com tempo da música. Milagros nos deu uma baqueta de bateria para gente ir treinando a mão em casa. Foi um dia maravilhoso de música e ritmo, mal podemos esperar pelo próximo encontro... Infelizmente a Milagros só estará conosco poucas vezes.As 18h fui para a capoeira, às meninas não conseguiram ir. Fizemos o treino e depois houve duas rodas, uma de regional que participei e para o início com um bom desempenho e a outra de Angola, que nem me atrevi a entrar, fiquei tocando reco/reco e foi ótimo. To descobrindo que a capoeira é um ótimo ritual corporal, se meu corpo agüentar fico na capoeira uns 20 anos ou mais.

Sexta-feira - Dia 21/11

Tivemos encontro com a Maíra, capoeira para preparação de atores. Estamos todos muito encantados com a capoeira. Começamos com um aquecimento, a Maíra puxa a turma com firmeza, começamos a gingar e ela nos ensinou alguns golpes. Foram 02h de treino puxado. Uma beleza.À noite, eu, Luciana e Dora, fomos ver o espetáculo ARRISCAMUNDO, no Cine Horto. Adorei dois figurinos, peguei o telefone da figurinista.Depois peguei meu ônibus e fui para o Rio de Janeiro. Onde estou agora. Fico aqui até terça quando sai a primeira parcela do dinheiro da montagem.Obs. importantes: Estas semanas têm sido muito produtivas, consegui envolver no projeto artistas, colaboradores que estão nos dando aquilo que precisamos para nossa caminhada criativa. São apenas duas semanas mas a impressão é de um mês de tanta coisa que já aconteceu. Uma pena a gente ter de parar no dia 18 para as festas, mas não tem jeito, vamos até lá vivendo cada dia, cada momento desta primeira fase, que é uma fase de azeitamento. Estou descobrindo através das oficinas os passos que terei que dar no ano que vem. Recomeçaremos nossos ensaios no dia 05 de Janeiro, quando já entramos com mais força na peça, com mais dias de ensaio, cinco vezes por semana e explorando mais a dramaturgia através da Dora. Logo farei um cronograma de execução para 2009. Teremos aula de voz com a Kátia Couto (uma vez por semana), Capoeira com a Maíra (uma vez por semana, fora a academia), Palhaço com a Gyu (uma vez por semana), performance com Moacir, percussão com a Milagros, ou outra pessoa (Uma vez por semana), os encontros comigo (a peça), leituras do resto dos textos de Plínio Marcos, trabalho de música com Muzzi. Tenho de conseguir mais alguém além da Milagros para dar aula de percussão e uma pessoa para fazer um trabalho com mascara.A Dora já está trabalhando, experimentando, aprimorando a escrita, se aproximando do universo de Plínio, sei que é um desafio pra ela, mas os textos que ela tem publicado no seu blog (http://ficccaoeprocesso.blogspot.com/), deixam claro que ela está no caminho certo.Trabalhar com a Luciana e com a Dora tem sido ótimo, as duas são muito apaixonadas e têm muita vontade de descobrir.

Quinta Feira - Dia 27/11

Encontro com a Gyu. Estávamos todos de “TPM”. Foi um dia difícil para concentrar. Começamos com os exercícios de concentração e descobrimos que seria um dia daqueles... Mas logo tudo passou e nos entregamos de corpo e alma... O corpo um pouco dolorido, se a costumando a ginga da capoeira. A Gyu depois fez com a gente o exercício do siga o mestre e eu, pra varia, mais uma vez, levei muitas pandeiradas na bunda. Depois fizemos uma coisa de ocupação do espaço, com pantomima, a Gyu ia comandando uma serie de situações. Depois fomos para o exercícios individuais. Cada um de nós tinha que entrar na sala e fazer algo que gosta e sabe fazer... Algo simples, sem pensar demais. O tipo de coisa que parece fácil, mas na hora H recorremos as velhas formulas e não é isso que estamos querendo. Estamos em busca do palhaço de nós, de tudo que somos, de verdade, ali... No momento presente. Tenho descoberto que este caminho vai nos levar, lá na frente, a uma transformação que será eficaz para nossa peça. Novos corpos, nova alma, nova/mente e de novo. Ano que vem vamos intensificar as aulas de palhaço da Gyu, na próxima semana já teremos um dia inteiro e serão dois dias de trabalho. O universo do palhaço, nos é revelado pouco a pouco. No dia 26/11, eu e Lu e Dora lemos o texto Balada de um palhaço de Plínio Marcos e foi ótimo. A cada passo que damos, por menor que seja, já nos leva a outro lugar. A historia do Balada de um Palhaço trás o conflito que todos nós artistas temos em algum momento, um pouco aquela coisa de se vender, de perder a alma, de não ter mais um ideal pra seguir, fazer as coisas só por dinheiro. Isso foi muito significativo, Plínio Marcos através dos conflitos de Bobo Plim nos da uma lição ou no mínimo faz a gente se sacudir um pouco. A Gyu com sua oficina de palhaço tem tirado um pouco a gente do lugar... Estamos ainda presos a nós mesmos, mas aos poucos estamos descobrindo outros de nós. Para a peça não sei o quanto usaremos deste palhaço de fora, mas o de dentro usaremos o tempo todo. Mas aos poucos vou descobrindo onde entra o palhaço com nariz na nossa peça...Voltando ao dia 27/11... A Gyu nos colocou o nariz de palhaço pela primeira vez. Foi ótimo, ver como ganhamos e como perdemos, mas de fato é outro ser... Esquizofrênico isso, vindo de mim que sempre achei estranho essa relação ator personagem, agora sei que isso é uma espécie de verdade. Ficamos felizes. Conversamos um pouco. A Gyu havia pedido um trabalho de casa, nós tínhamos que escrever sem parar, direto, tudo que viesse a nossa cabeça, sem parar pra corrigir ou melhorar o sentido das coisas, tudo que se pensa na hora em que se escreve deve ser escrito. Mas tínhamos que escrever algumas lembranças, uma espécie do que você levaria pra eternidade. Tudo que estamos vivendo vou transformando em espetáculo, deste dia fica esta escrita, como fala. Será possível a gente improvisar uma historia inteira sem parar, sem dar pausa ou respirar demais, usando o máximo de fôlego para cada frase dita e falar sem parar como louco? Eis a questão a ser experimentada. Ainda estamos no momento de pesquisa, analise, crescimento... Estamos arando a terra e plantando para começar a colher no ano que vem.... Mas para colher é preciso cuidar e temos dois meses e meio para cuidar, até a estréia ainda muita coisa vai rolar.
Ontem (27) conversando com a Dora ela me fez um questionamento que na hora me deixou um pouco confuso e irritado, mas aos poucos fui entendo o que ela quis dizer. Ela me questionou enquanto dramaturga, como eu poderia está pensando em cenas, em estética, em imagem, sem um texto ainda propriamente dito? A pergunta que faço é: Nós precisamos de uma texto para pensar em cena, ou as cenas podem nos fornecer o texto?... Penso mesmo que a via é contraria neste caso... Tenho algumas cartas na manga, baseadas na minha vontade (Desejo) e no meu entendimento daquilo que não quero. Aos poucos aquilo que quero vem em forma de imagem e nesse lugar vou explorando, passando para Dora e vindo novamente até que tenhamos construído nosso espetáculo. O que me atravessa agora é o palhaço, o contato intimo com a obra de Plínio Marcos, a capoeira, as imagens que recolho da rua, da internet... A peça passa por, como temas, solidão, abandono, performance, circo, tragédia, a ocupação de um espaço urbano e a saudade. Esses serão nossos parceiros de criação. Dentro disso tenho algumas fixações que são, guarda-chuça, escadas, barraco, carrinhos (rodantes), biombo, pinguela (corda bamba), alturas, parto (nascimento) e morte. Não tenho ainda muitas repostas, como cientista gero duvidas e a duvida move a ciência. Sigamos.

Dia 28/11 - Sexta

Nos encontramos com a Maíra que é um furacão corporal. Estamos fazendo capoeira na academia e as sextas nos encontramos com a Maíra para um intensivo. Podemos dizer que a Maíra nos atropela com caminhão... É maravilhoso ver as possibilidades do corpo através dos movimentos da capoeira, aos poucos vamos trabalhando o jogo e atenção, ainda estamos na técnica par mais tarde entrarmos neste jogo que é a capoeira. Eu to aprendendo, o que já sabia de longe, que a capoeira é um espetáculo cênico de improviso corporal/mental. Hoje fiquei com vontade de abrir ou fechar a peça com uma roda de capoeira. Ontem lendo uma crônica de Plínio Marcos fiquei surpreso quando ele narrou uma roda de capoeira inteira, com golpes e tudo que tem direito. Fico sempre muito feliz quando as coisas se cruzam desta maneira. Estamos, em relação a Plínio Marcos, juntos e misturados. Nada é por acaso e trabalhar com a Maíra tem sido um prazer imenso. A capoeira não só modifica nossos corpos, preparando-os para o que poderá vir, como nos deixa mais atentos. Volto a dizer que nunca mais monto um peça sem que a preparação corporal dos atores seja capoeira. Fizemos hoje muito alongamento e ginga com golpes. O ensaio acabou 12h e fomos todos para a Savassi na roda de capoeira que acontece toda sexta ao meio dia. Lá ficou ainda mas claro para mim que a capoeira, além de ser um espetáculo cênico, é uma arte de rua. Viva a Capoeira! Viva a arte de Rua!Obs.: Para não esquecer - vou tentar ver se é possível uma roda de capoeira antes ou depois da peça, a cada apresentação. Que dia bom!

Dia 04/12 - Quinta

Chega o dia da apresentação de uma cena escrita pela Dora e dirigida pelas duas. Fomos todos para a sede dos Doutores da Alegria, eu, Dora, Lu, Kátia, Maíra e Gyu. As 10 horas as meninas apresentaram a cena. Primeiro texto em teste que a Dora escreveu, intitulado “O Nascimento do Filho da Puta”. Era tudo uma surpresa inclusive pra mim e foi ótimo. Elas colocaram a capoeira nas marcas que criaram e esse foi o ponto alto de descoberta. O texto é ótimo, forte e funciona muito bem, precisa de ajuste aqui e ali, mas isso é trabalho, processo. Depois cada uma delas cantou uma música com cena para Kátia ver o material vocal. As duas não haviam preparado a cena e tudo foi muito fraco, elas acabaram se escondendo um pouco, o que fica disto é que sem trabalho, cuidado, não podemos fazer um bom trabalho, isso me faz lembrar que não dispomos de muito tempo para a estréia, mas se precisar adiar a estréia adio, por este cuidado que é necessário. Nada pode ser feito à-toa, com deslize. Mas a Kátia viu que as meninas são umas perolas e estamos todos nos lapidando no momento de criação. Questões ficaram sem respostas, apontamentos foram feitos, muito frio na barriga de todos. Este é o caminho. Segurança demais as vezes atrapalha. Deu para sentir na cena que estamos mesmo no caminho certo. A Maíra pode ver que a capoeira pode estar dentro da estética da peça, a Gyu sabe agora o caminho que podemos seguir com os palhaços, chegando nos bufões e a Kátia sabe que deve trabalhar no inicio muita resistência vocal para que as meninas possam sustentar suas vozes na rua.Sou o tipo de diretor que não tem todas as repostas e não está muito preocupado em ter ainda, o que preciso fazer é esta onda para que todos possas estar ligados ou conectados com as necessidades do trabalho de rua, com Plínio e com o Humor Destruição. Este tipo de humor é uma espécie de soco na barriga do senso comum, com a pretensão de tirar as pessoas do lugar. Depois das cenas batemos um papo e o dia seguiu sob o comando da Gyu - fizemos nosso processo para descobrir ou acordar o palhaço de nós mesmo. Fizemos o exercício de concentração, depois fizemos o mestre mandou, depois pantomima e fomos ler os textos que escrevemos, aquele que tivemos de escrever rápido, depois a Gyu pediu para guardarmos três imagens de cada texto nosso. Ai foi a vez de fazer com os narizes de palhaço estas imagens que ficaram. Um loucura, lindo demais. Depois fomos almoçar e voltamos para assistir o filme "O Sentido da Vida" do Monty Phiton. Depois do filme fomos para a capoeira na academia. Um dia muito produtivo.A noite eu e Dora conversamos sobe o texto. Esta conversa foi quente e fundamental no processo. Descobrimos que essas duas personagens são colecionadoras de historias, contadoras da historias, que atravessaram os séculos andando pelas ruas, observando e fazendo arte. Seres mambembes que vivem para não deixar o teatro morrer através dos séculos. Elas estão agora no Brasil e resolveram homenagear o Plínio Marcos dando vozes aos miseráveis, aos parias da sociedade. Tudo que carregam, suas tralhas mostram que elas passaram por todas as épocas e trazem com elas muitas lembranças, saudades e desejo de dividir com o público historias de um tempo maldito. Isso é muito interessante pois começa aparecer algumas imagens simbólicas. Na primeira parte da peça elas começam a montar o lugar de representação (Hoje tem espetáculo). Toda a tralha que carregam começa a ter forma, a ornamentar o espaço de apresentação. Um pouco de meta teatro. O Miolo da peça são as cenas, tudo muito circense, teatro, cenas e personagens, esquetes, transições, imagens, ludicidade. No final elas recolhem tudo deixando a praça vazia, cheias de lembranças, a praça já não é mais a mesma, as pessoas já não são e elas mesma já não são... Tudo se transforma na relação. Pensei que a praça pudesse ficar vazia e tudo que fica no final é uma sapatinho de palhaço esquecido no centro. Elas se vão cantando para outras paradas.Tudo que fizemos neste final de ano, nestas três semanas, foi dar início ao processo de pintar as partes. Cada parte do quebra cabeça vai ganhando sua característica e só depois é que vamos juntar e ver que imagem vai aparecer no nosso quebra cabeça. Depois é colar cada parte e moldurar nosso mosaico. Tudo ainda muito caótico e extremamente produtivo, cada dia é um desafio, uma descoberta, uma cor e por ai vai. Temos um trabalho pela frente e cada dia vamos descobrindo um pedacinho que se encaixa no outro.

Dia 05/12 - Sexta Feira

O dia de capoeira com a Maíra. Estávamos todos muito cansados mas a Maíra não deu mole pras meninas. Aquecemos, eu sai e elas foram aprender um pouco da ginga de Angola, que é um jogo mais lento, com movimentos mais precisos, que forçam mais a musculatura. Foi ótimo. Certamente a capoeira vai estar em todos os nossos movimentos, a ginga, os corpos, o jogo e os desenhos. Depois fomos para a roda de capoeira que acontece toda sexta 12h na Savassi. Otimo dia!Dia 08/12 – Segunda FeiraComeçamos o dia agitados com a chegada da Gyu aqui em casa para ver filmes de palhaços. Acordei e fui comprar nosso lanchinho da manhã. A Gyu chegou e sentamos para tomar o café antes e iníciar o trabalho. Depois a Gyu passou um filme de uma circo frances... Depois uma outro filme sobre um palhaço italiano e ai o grande momento com o filme “I Clowns” de Feline. Otimo conhecer mais sobre os grandes palhaços do mundo e saber diferenciar melhor o Branco do Augusto. Foi otimo ver tantos palhaço de talentos variados. Está semana está rolando um festival de palhaços aqui em BH (Palhaçadas em Geral). Vimos muitos palhaços interessantes e foi um complemento a nossa pesquisa.Na parte da tarde começamos o trabalho de perfomance de rua com Moacir Prudêncio. Encontramos com ele na praça da Estação. O trabalho começou com as meninas fazendo uma pequena instalação na praça, com uma fita e incenso. Este é o ponto de partida. Depois cada uma com uma maquina fotografica tinham que tirar fotos com o tema miséria por um trajeto definido previamente definido pela Moacir. Elas foram andando e tirando fotos de tudo que para elas lembrança miséria. No centro de BH não é dificil achar este tipo de imagem, de cartão postal. Fomos andando até a praça Raul Soares e no final, na chegada elas tiveram de fazer uma nova instalação com inceso e a fita branca. Depois, para finalizar, ele pediu para a meninas fazerem o execicio da escrita rapida sobre o que elas sentiram no trajeto. As meninas se entregaram como sabem fazer e curtiram o olhar da cidade. Escreveram durante 3 minutos o que vou trancrever a baixo:Dora Sá –Escrita rapida vamos lá, shoping no natal, um inferno, cheguei a usar a camera para capitar o som porque a imagem só não bastava. Inferno. Delícia de barulho da água , tá faltando musica. Mas vi muito lugar mijado, muito recado em postes. Será que mijo também é recado? As lixeiras dos lugares revitalizados não tem recados. Essa praça é mesmo uma graça... Curti... Olha a música ai gente... Musica classica para acalmar a plebe. Enquanto no caminho o cara tem de falar, ná não?(acabou o tempo de 3 minutos)Luciana Bahia –Cheiro, muito cheiro de ruídos. Coisas sujas de coisas que já foram limpas. Limpas? Ruas que dormem pessoas com cores, muitas cores, cores sujas, limpas, pedras, buracos, gente, transeuntes em flores, arvores, musica em água, água em mim, barulho don silêncio, marrom estampado nas coisas. Leveza do som da cidade urbana que se constroe e se destroi a paz do centro urbano. (acabou o tempo)Depois conversamos um pouco com o Moacir e ele explicou como seria sua oficina... Vai ser otimo. Todos estamos pensando juntos e separados, o que começou hoje com o Moacir certamente vai ser util a nossas vidas e a nosso trabalho. Viva a vida viva!Saímos da praça, nos despedimos do Moacir e fomos ver uma peça de palhaço tão ruim, que despensa comentarios. Beijos

Dia 11/12 - Quinta-feira

Fomos para o Cine Horto para dar início aos trabalhos vocais com a Kátia Kouto no comando. Chegamos lá e foi como esperado. As meninas se entregaram nas mãos da Katia. Ela deu um aquecimento, alguns exercícios de respiração para começar o trabalho de sustentação, de fortalecimento do músculo interno do abdômem. Foi uma otima introdução. A Kátia pediu para as meninas cantarem uma música e ai, desta vez, ela pode ouvir melhor a Dora cantando. Concluímos que seria melhor dar continuidade ao trabalho vocal no ano que vem... Por uma questão de continuidade do processo. Tenho pensando muito em como não deixar as meninas esquecerem tudo o que vivemos até agora. Nós teremos umas férias de 10 dias, espero que todos façam suas lições de casa.O fato é que a Kátia já sabe o que deve trabalhar e como trabalhar, não vejo a hora do retorno.Depois lemos o texto “O Bote da Loba” de Plínio Marcos. Uma comédia rasgada e desbocada, própria de Plínio. Desta vez ele coloca uma mulher de classe média alta, com problemas de depressão, junto com uma cigana lésbica que diz que o probelam da mulher é de ordem sexual. No final elas acabam transando loucamente.Ainda na Quinta-feira, encontrei o Flavio que fará nossa arte grafica. O Flavio é uma destas figuras que encontrei e que já estão fazendo diferença na minha vida. Toda vez que troco idéia com ele, meio que há um encontro, sinto que aprendo muito. Desta vez, além da boa idéia inspiradora, combinamos que o Studio dele faria a arte e ainda nos daria em forma de apoio, 40 cartazes e 2000 programas. Esta é uma parceria que vale ouro, estamos muito felizes com os parceiros deste trabalho.Dia 12/12 - Sexta-feira Acordamos todos muito cansados. Esta semana de capoeira, leitura, trabalho vocal nos deixaram com dores em muitas partes do corpo. Sexta é o dia de trabalho com a Maíra (Capoeira), pra começar foi difícil. Começamos com aquecimento e depois elas foram trabalhar alguns movimentos de angola... As meninas gemiam bastante mas estavam se divertindo. As três se conhecem muito bem e enquanto conversam e dão risadas, vão dobrando, esticando e deslocando o corpo e vários planos sob os comandos atentos de Maíra. Uma Sexta ótima. Depois fomos todos para a roda de capoeira na Savassi.Estou finalizando o projeto para mandar para o Galpão Cine Horto... entrego na Segunda. Vamos torcer. Beijos

Dia 15/12 - Segunda-feira

Foi difícil dormir pensando na entrega do projeto para o Oficinão. Logo que cheguei no Cine Horto entreguei o projeto e relaxei um pouco. Fomos para a oficina de palhaço com a Gyu. Fizemos um aquecimento e nosso exercício de concentração. Depois fomos caminhar pelo espaço e fizemos uma exercício para descobrir nosso campo de energia, nossa bolha. Daí fomos andar e ao passar um pelo outro tínhamos que entrar na bolha do outro e continuar andando. Depois ela pós as atrizes uma virada para a outro para fazer o exercício do “Olha o que eu sei fazer”. Faz um ação, diz - Olha o que eu sei fazer, a outro atriz diz - Que legal e faz sua ação e daí por diante. Gyu esperou um tempo e colocou os narizes e continuamos o exercício com narizes de palhaço. Depois ela fez o exercício de perguntar de nariz de palhaço, com uma ação física e perguntar - Eu sou bonita?... Depois foi o jogo do gromelo, enquanto uma falava um língua estranho a outra palhaça ia traduzindo. Daí ela fez uma exercício de improvisação, as duas tinham um tema, eram dois palhaços contratados para limpar um teatro onde haveria uma palestra, chegam atrasados, começam o serviço e só depois percebem que a platéia já esta nas cadeira... Ai improvisam a saída e fim. Fizemos algumas vezes, sob o comando atento da Gyu, que deu toques importantes sobre tempo e jogo. Depois conversamos e falamos nossas impressões dos exercício. Ai ele continuou com improvisação mas agora com vários objetos, as duas de costas, a Gyu colocava um objeto atrás de cada uma delas. Batia palma, as duas se viravam, olhavam para a platéia, depois para o objeto e ai tinha que vender o objeto, disputando, quem vidência melhor, em gromelo e transformando o objeto. A cada palma que a Gyu batia era para transformar o objeto. Foi ótimo. Depois a Gyu sentou com a gente para mostrar umas fotos de palhaços e bufões. A Gyu pediu mais um dia por semana no ano que vem. Quase soltei fogos. Muito bom contar com uma pessoa tão dedicada. Nos despedimos e agora só vamos encontrar com a Gyu no ano que vem. Este ano está acabando e logo vem outro, Oba!

Dia 09/01 - Sexta Feira

Ola, amigos e parceiros. Depois de um tempo na engorda das festas de fim de ano, está na hora de queimar os quilinhos a mais e a mufa no retorno ao nosso trabalho. Confesso que me desliguei do trabalho o quanto pude para dar uma renovada e voltar com o frescor adequado. Começamos o ano com a Gyu, uma Sexta feira com poucas horas mas um retorno produtivo. Acabamos por conversar e decidimos uma coisa sabia, não queimar etapas no processo. No trabalho com o Palhaço antes de passar para o Bufão vamos dar uma mergulha esta semana na oficina de palhaço com a Gyu, ela que já está mais para Diretora e com muita propriedade vem contribuindo com amor para nosso processo. Depois de uma bate papo onde pude apontar alguns caminhos, questões e duvidas. A Gyu propôs um jogo simples de observação. Ela primeira nos deu um saco plástico para que cada uma de nós pudesse tocar e sentir a textura, a forma e etc... Depois um de nós imitou com o corpo o saco. Fez o mesmo com um papel alumínio e um jornal. Muito bom poder ver o corpo e os corpos e é dai que a gente vai espremer nossas possibilidades físicas. é preciso não esquecer que podemos ser um corpo dimensionado, plástico e cheios de curvas e segredos.

Dia 12/01 - Segunda Feira

Começamos a semana do intensivo com a Gyu, essa semana é Gyu mandando vê "em nós". Hoje foi um dia feliz. Começamos com um exercício de concentração par ao trabalho. A Gyu pois um som, nó deitamos e por um momento respiramos e esticamos os corpo a partir da coluna. Depois fomos despertando sempre usando a coluna como condutora do movimento, primeiro no chão (plano baixo), torcendo o corpo e se lançando no espaço. Depois plano médio e alto. Sempre com música e usando o ponto central da coluna como guia, atacando e defendendo. A Gyu foi dando alguns comando importantes, como, velocidade e a passagem pelos planos e a atenção na respiração e outras partes do corpo dividindo o comando com a coluna. Importante não esquecer a importância da coluna, os apoios e sensações. Depois fizemos um exercício de caminhada usando diversas possibilidades de caminhar, as bordas dos pés, as pontas, o calcanhar e os pontos do corpo que puxam e assim sem que a gente precisa interpretar vão surgindo a partir do físico, outros corpos que não o nosso cotidiano. A ultima parte do corpo que conduziu o movimento foi o nariz, ai a Gyu colocou o nariz de palhaço na Dora e na Lu. Preciso sempre dizer que a Dora e a Lu tem se dado por completo ao trabalho, facilitando a vida dos nossos colaboradores, elas são nosso foco principal, sem ele nós não somos nada. Depois a Lu e a Dora continuaram caminhando, agora, com o nariz de palhaço. Muito bom ver como a partir de tudo que já fizemos, no retorno, bastou um dia para que a gente já comece a descobrir possibilidades. A Dora com seu jeitinho dorminhoco de ser, está se tornando, pelo visto o Augusto da dupla e a Lu com sua maneira está sim descobrindo o Branco. Isto para mim é material, ainda que a gente não trabalhe com palhaço diretamente, os personagens vão surgir deste dialogo, ainda é muito cedo para fazer algumas afirmações, mais estamos caminhando bem, bastou um dia para a Gyu e eu, observando o trabalho, pudéssemos perceber o quanto de material já temos. Depois fomos ao deposito do Galpão Cine Horto e pegamos vários figurinos e adereços, para montar figurinos para os palhaços, eu levei alguns figurinos, juntamos tudo e pusemos no chão. Fomos caminhando e escolhendo, experimentando e chegamos há um padrão, logo vou por as fotos aqui. Neste caso, os figurinos, são para a oficina, ainda não é para o espetáculo. Ficamos os três com figurinos que a Gyu foi ajudado a encontrar. Depois fomos, um de cada vez para a entrada destes palhaços que ainda não tem nome. A Dora primeiro, entrou na sala, desfilou, sempre trocando olhares com os demais e caminhando saiu por onde entrou, sem o nariz, depois fazia o mesmo com o Nariz. Foi ótimo ver os tipos que estão surgindo. Depois eu fui jogado fora e a Gyu só trabalhou com as meninas. Normal, diretor bom é diretor sentando e calado (rsrsrsrs). A Gyu pediu as duas para sair a sala, disse a elas para colocaram os narizes e criou um tema de improviso, as duas tinha sido contratadas como dançarinas e tinha que dançar como as melhores dançarinas (as duas disseram que eram bailarinas de Marrocos). A Gyu soltou o som e era um sambinha de roda. Elas começaram a dançar e por alguns momentos pareciam que tinha ensaiado uma coreografia, provando a sintonia das duas atrizes em jogo. Depois ainda fizemos o jogo da loja de eletrodomésticos, onde eu era o cliente, a Gyu a vendedora e as palhaças os eletrodomésticos. Foi bom demais. Depois sentamos para conversar e a Gyu ficou satisfeita com o resultado de tudo. Ela nos revelou que seu Marido leu os texto da Dora e deu alguns toques importantes. É sempre bom tais toques e certamente vamos ter ai mais um colaborador. Sigamos. Coragem, amigos... Estamos caminhando a passos fortes. Logo teremos que limpar e decidir e ai alguns ficarão tristes, outros felizes, alguns dirão que o caminho não era esse e outros acharão tudo maravilhoso... é sempre assim... eu espero que no memento de limpar e decidir todos tenhamos a calma do criador, que em seis dias criou o mundo e no Setimo descansou... rsrsrsrsr. Beijos

Terça-Feira – Dia 13/01

Nos encontramos com a Gyu no espaço do Doutores da Alegria. Estamos no intensivo de palhaço. O dia começou calmo. A Gyu, pois uma musica de circo e mandou que a gente deitasse no chão. Esse zelo pelo começo do trabalho é muito importante. É sempre bom para chegar ao estado de trabalho. Deitados, esticamos o corpo, respiramos, trabalhando os tempos na respiração – puxa em 5, prende 5 e solta em cinco, aumentando o tempo progressivamente. Prestando sempre atenção na coluna, começamos os primeiros movimentos a partir dela. Aos poucos os movimentos vão radiando para o resto do corpo, que a está hora já esta com vontade de despreguiçar. Esticando (alongando) ao máximo e relaxando. Começamos a ficar nos quatro apoios, ainda trabalhando no plano baixo. Variando a velocidade do movimento. Alongando, sempre atento ao movimento que parte da coluna. Assumimos a posição de plano alto e explorando os espaço do corpo e o corpo nos espaços da sala. O olhar sempre no horizonte, presente, percebendo. Este olhar é extremamente importante. É preciso ver, dividir, somar, percebendo os colegas no espaço, o espaço nos colegas e todos ali se movimentando em jogo individual, mas nunca sozinho. Trabalhamos as velocidades do movimento, a Gyu dava as coordenadas, de 01 a 10, mantendo o dez no máximo até para (pausa) perceber a respiração, controlar. Depois a Gyu trabalhou com o quatro elementos (Água, fogo, terra e o ar). Caminhando nos éramos levados pelos comandos da Gyu, entramos no mar, a água subindo pelo corpo até sermos água, vários estados da água. (calma e revolta). Depois saímos da água e fomos para terra, vários estados de terra e nós viramos terra e como é ser terra?... Depois nos tornamos ar, furacão, brisa, muitos estados. No fim fogo, um foguinho, depois fogão, raios e chamas. Muito bom estes estados todos em movimento. A Gyu pediu para a gente por as roupas que haviam sido escolhidas no dia anterior. Com nossos figurinos de palhaço e narizes, um de cada vez tinha de entrar (entrar de palhaço – para olhar, dividir e seguir) Uma vez no meio da cena nos fizemos, de palhaço, os quatro elementos. O que ficou pra mim é que preciso ser e não representar que sou. Ser fogo, ser ar, ser água e ser terra. Que olhar é este? Que corpo é este? Acreditar no jogo. Depois fizemos outro ótimo exercício de palhaço. Primeiro dois palhaços, um dono de um cinema, que entra primeiro e outro o que veio ao cinema para ver um filme. Quem narra o filme é o dono do cinema e o outro reage à narração. Não há cena entre eles, apenas escuta dos dois para que o exercício seja bacana. Importante ter início, meio e fim. O palhaço que reage pode fazer o quem vem entender com aquilo que está vendo, pode gostar, ou não, dormir, se assustar, se emocionar... Depois saímos juntos para comprar nossos narizes de palhaço. Oba!

Quarta-Feira – Dia 14/01

Desta vez o trabalho foi novamente no Galpão Cine Horto com a Gyu. Começamos novamente deitados no chão, com uma música. Coluna, tempos para respirar, planos e velocidades, sempre percebendo a gravidade agindo no corpo, a respiração, a coluna e o espaço. Depois fomos para o trabalho de caminhada no espaço usando os corpos com a forma côncavo e convexo, tirando destas formas o estado. Então se estou côncavo, com os braços para baixo, coluna baixa, como fica meu olhar? Uma postura mais deprimida, reprimida, oprimida. Já o contrario, no convexo, a posição é mais altiva, o olhar de baixo para cima, mais opressora, repressora... Depois pusemos nossas roupas de palhaços e fizemos um exercício engraçado. Em dupla um fazia o outro de boneco, puxando daqui, dali, empurrando e o outro reagindo confirme o estimula. A gente começou com certo pudor, mais logo virou competição e era um querendo acabar com o outro. Depois repetimos com os narizes e foi bem divertido. A Gyu ficava mudando opressor a cada instante. Depois fizemos o exercício também em dupla de apoio e apoiado. Um palhaço era o apoiado que tinha de cantar uma canção e o outro era o apoio que apresentaria o cantor. Descobrimos, mais uma vez na vida, que menos é mais e que é preciso entender e dividir o foco. Sem gracinha desmedida, sem mentira, ali, presente. Com o olhar sempre para o frente, nunca para chão, dividindo os momentos com a platéia. Foi uma semana fascinante do trabalho de palhaço. Começamos a descobrir o Augusto na Dora e o Branco na Luciana. Isso já nos dá uma idéia de jogo lá na frente, para o espetáculo. Sigamos

Quinta-Feira – Dia 15/01

Hoje foi o dia de trabalho com a Kátia Kouto – preparadora vocal. Chegamos aquecemos. Ela explicou a importância de um bom aquecimento. Depois explicou a maneira mais adequada de respirar, enchendo as laterais, costas e barriga e de soltar o ar empurrando a barriga pra dentro para emitir a voz. Depois caminhando no espaço e fazendo “Xi” sempre empurrando a barriga, aumentando a velocidade ao comando da Kátia. Depois com o teclado fez alguns vocalizes. Pediu pra as meninas cantarem uma musica cada uma. Ela tá trabalhando com potência, resistência e conhecimento do canto, da fala. Uma coisa bacana foi saber que a gente não articula bem pra cantar. Isso foi muito importante hoje, saber que articulação do canto não é horizontal e sim vertical, o queixo tem de cair para que a articulação seja adequada... No canto assim como no teatro é preciso que se entenda o se diz. Incrível a diferença, as duas fizeram alguns exercícios de escala, sempre coma atenção na barriga que entra para o ar sair, na boca articulada, sem levantar o pescoço, procurando viver na pratica o que sabemos na teoria. No final as duas foram filmadas cantando novamente, ai com a articulação necessária. Depois vimos o filme. O que parece exagero quando fazemos, no filme não parece, é normal. O músculo da face estranha por que não está acostumado. Muito bom. Nossos parceiros têm dado contribuições valiosas. Agora vamos entrar na fase do espetáculo, chegou a hora de experimentar os textos da Dora... Sigamos.
Quarta-Feira - 28/01

Começamos o dia na Sala 01 do cine horto, com a Gyu no comando. Combinamos que seria um dia intensivo, manhã e tarde mergulhadas no trabalho do bufão e do grotesco. A medida aqui é tirar as atrizes do eixo, deixa-las mais sujas e feias e tirar daí a poesia. A pergunta é: como fazer com que duas atrizes de classe média, construam personagens pobres, moradoras de rua, com todo peso que seres humanos carregam para sobreviver? Escolhemos o camunhão do bufão e do grotesco. A Gyu sempre começa o trabalho no chão, uma música e alogamento para preparar o corpo para o trabalho. Foi assim que inicíamos os trabalhos de hoje. Depois deste alongamento, cemeçamos a caminhar no espaço procurando o experimentar formas de caminhar, tirando o equilibrio, de uma maneira extra-cotidiana. Passamos por animais, respirando e entregando o corpo para tais experiências. A caminho do grotesco começamos por trabalhar as deformidades, primeiro colocamos volumes e pesos nas costas, parecendo uma corcunda. Ao caminhar com este peso novo o que modifica no estado? Como é a respiração destes seres? O espaço é nosso limite fisico, a imaginação não conhece limites. Se colocar nesta situação de ser um ser corcunda, com fome, frio e desejos é uma vivencia e tivemos bons resultados em processo. Precismos acabar com os pudores, se entregar para o corpo fragmentando. Estamos no caminho. Depois para para almoçar juntos na casa da Gyu. Depois do almoço voltamos para a sala e fizemos to trabalho com barrigas grandes, eram dois gordões escrotos...é assim que chamamos eles. Uns sujeitos que só pensam em comer, estão a beira de vomitar, de explodir. Esses seres passaram por algumas situações, vivencias e jogos. Depois a Dora fez o concurda e a Lu fez o gordão e fizesmno os dois passarem por situações juntos. Para finalizar o trabalho, os dois contaram uma historia juntos. Usando as expressões e vozes que trabalharam. Foi otimo. Um maravilhoso e casativo dia de trabalho.
Sigamos.
A novidade: falei com o Veveco e ele vai nos ajudar a fazer o carrinho.

Quinta Feira - Dia 29/01

Chegamos par ao trabalho as 9:30h. Continuamos o trabalho com os bufões. Desta vez a Gyu começou um aquecimento diferente. Ficamos sentado nos cubos, com a coluna reta, pés nos chão e uma leve inclinação para que o peso ficasse na base das pernas. Daí fomos alongando e massageando partes do nosso corpo. Depois de aquecidos fomos para um exercício de concentração e jogo. Os cubos estavam espalhados no espaço, formando uma trajetória acidentada, alguns sapato também espalhados no chão. O exercício é de caminhada no espaço, variando os tempo de velocidade e com algumas missões. Tínhamos que cumprir tudo juntos. A Gyu primeiro deu uma bolinha de pano para cada um e explicou as regras... Nós tínhamos que decorar 4 conjuntos de ritmo (velocidade) O primeiro era 1, 3, 5, 7, o segundo era 3, 1, 5, 7 o terceiro era 7, 1, 5, 3 e o quarto era 1,5, 3, 7. Cada um destes bloco haviam ações especificas. No primeiro nós partíamos cada um de um cubo, levantando junto, começando a contagem de velocidade e mudar a velocidade juntos, caminhando no espaço e no final parar escolhendo um cubo. No segundo começar a andar junto, passar pelas velocidades juntos, marcar com o corpo o cubo escolhido e parar. No terceiro passar pelas velocidades juntos, marcar um sapato no chão, sentar no cubo que fora escolhido na anterior, sentar e jogar a bolinha de pano no sapato marcado. Sempre juntos, sem comando, somente atentos no todo. No quarto passar pela velocidade juntos, parar e depois sentar no cubo que iniciou o trabalho. Fizemos este exercício e fomos trabalhar com os anões. A Dora e a Lu colocaram roupas e toca na cabeça, joelheira e fomos experimentar o anões. O trabalho foi simples, andar no espaço como anões, ao comando da Gyu, percebendo as dificuldades e jogando com elas, usando a mascara facial e buscando sons e vozes destas figuras. A Gyu propôs um tema de festa, onde os anões fizessem algumas ações. Depois eles entraram e dançaram para nós. A Lu estava com uma joelheira ruim e queimou o joelho - marcas da entrega ao trabalho. Vamos trabalhar melhor esses estados. No final sentamos para conversar e chegamos juntos a conclusão de mudança de fase do trabalho. Já na semana que vem vamos trabalhar em cima do texto da Dora, já com o olhar voltando para o s detalhes e trazendo aos poucos tudo que foi trabalhado para a cena. A Gyu fez algumas questões e propostas e vamos seguir neste caminho, trabalhando a cada dia uma parte de cada cena.Foi um bate papo ansioso e apaixonado. Nosso trabalho caminha de tal maneira que tudo que falamos e fazemos reverbera e faz com que a gente, juntos, tomemos decisões. Este é o primeiro trabalho como diretor que não me sinto sozinho. Evoé!

Sexta-Feira - 30/01

Trabalho de hoje foi com a Maíra. A capoeira retornando das férias. No início, enquanto elas alongavam, contei a Maíra sobre a decisão tomada no dia anterior que agora estava na hora de trabalhar tudo em direção a cena. Ela então resolveu trabalhar com o ritmo do Maculele. Peguei alguns tocos para elas usarem como instrumento da dança Maculele. Agora que já temos a base da capoeira, vamos trabalhar com a plástica, o movimento e com o olhar do guerreiro atento ao jogo. Foi um amanha muita gostosa de trabalho físico e mental. Chego a conclusão de estamos trabalhando com um espetáculo engajado. Isso nos trás uma responsabilidade que é de lidar com nossos desejos de mudança, sem paternalismo, mas concentrado em passar uma mensagem de alerta ao povo da rua. Um espetáculo que fala de miséria humana ou que precisa falar. Daí a Dora já vai começar a trabalhar neste sentido. Nossa peça é política, temos um missão. Para tanto é preciso estudar para saber bem o que se diz e como se diz.

Segunda -Feira - 02/02

Nosso encontro tão esperado com a Milagros, ela havia trabalhando com a gente apenas uma vez e deixou todos nós com vontade de mergulhar no universo do ritmo. Foi tudo como esperado e certamente estes encontros com a Milagros as Segundas vão ser bastante proveitosos. Nós estamos no início do trabalho de ritmo. Ainda aprendendo o tempo da marcação/pulso. Fizemos diverso jogos para poder mentalizar com o corpo o pulso. Um trabalho simples e também complexo. Teoricamente fácil mas na pratica exige muito do raciocínio musical que precisa ser despertado. Mas nós não somos bobos e sabemos aproveitar bem o trabalho da Milagros. Vamos precisar de muita concentração para poder executar aquilo que estamos nos propondo. Somando a Capoeira, que também é ritmo, o Maculele, a oficina com a Milagros, o trabalho vocal com a Kátia, a oficina de Gyu certamente estaremos preparados para a direção musical do Muzzi. Sigamos.

Terça-Feira - 03/02

Hoje marcamos nosso primeiro dia trabalho no espaço onde provavelmente serão as apresentações. Nos encontramos com a Maíra para uma dia de oficina de Capoeira ao ar livre. Foi ótimo. Pude tirar muitas fotos. A idéia é criar intimidade com o espaço, a ponto dele se tornar nosso. Faremos até a estréia muitos trabalhos ali naquele mesmo lugar. Foi um ótimo dia de trabalho. As enormes arvores, a praça, o caminho entre as arvores, o piso de pedras portuguesas, os prédios no entorno, o som da cidade, as pessoas que passam, tudo isso é material de trabalho. Em um certo momento parou uma família de pessoas como as descritas na obra de Plínio... Nossa peça é para eles, é deles.
Pausa e continuação.

Pausa

Como todos puderam reparar não tenho feito diário de bordo dos últimos encontros. Não sei dizer o porque, mas me parece que entramos em um fluxo mais subjetivo de criação o que dificulta ainda mais o relato. Mas para deixar todos informados e como registro de processo vou começar novamente deste ponto a escrever o diário. Nas ultimas semanas trabalhamos com a Kátia Kouto, com a Milagros, comigo com a Gyu e um pouco com a Maíra. Com a Kátia fizemos uma aula teórica sobre a voz, que nos lembrou e alertou sobre os pontos importantes de produção da fala. Nossa atenção com a voz merece este cuidado de conhecimento dos aparelhos de produção de voz do corpo. Com a Milagros fizemos dois encontros que sempre são produtivos para entender o ritmo, em teatro tudo é ritmo. Comigo entramos no texto da Dora através de improvisação com os personagens. Foram dois dias de trabalho bem produtivos. No primeiro dia as duas trabalharam com a mendiga catadora e no segundo dia somente a Luciana trabalhou com a catadora e a Dora iniciou o contato com a grávida. Neste segunda dia trabalhamos com a Gyu, ficamos os dois coordenando a improvisação. Em um determinado momento a Gyu cuidou do trabalho da Dora e eu cuidei do trabalho da Luciana. Nós éramos uma espécie de HD externo. Foi bem divertido e elas tiveram o primeiro dialogo. Com a Maíra estamos trabalhando um pouco de Maculele e fomos para rua treinar um pouco de capoeira. Tenho começado todos os ensaios com uma pequena roda de capoeira entre as duas. A Maíra está trabalhando ritmo, jogo, resitencia e capacidade. Sigamos daqui. Coragem e muita merda a todoa. O Brasil volta ao normal só depois do carnaval. A partir de agora o diário de bordo volta ao normal.

Segunda - Feira (02/03)

A semana começou com uma noticia, digamos triste, a Milagros, nossa querida, amiga que estava cuidando da oficina de ritmo não poderá mais trabalhar com a gente. Por motivos pessoas. Ficou uma marca positiva do nosso encontro com a Milagros e certamente em breve nós trabalharemos novamente. Para a produção as coisas tem sido difíceis, a verba ainda não saiu e estou tendo que rebolar para sobreviver nesta cidade. Mas, apesar de toda adversidade, estamos caminhando com muita criatividade. Nos dois últimos encontros que tivemos descobrimos momentos importantes , tanto que a Dora mudou a cena que está ainda melhor. Agora já estamos trabalhando de fato nossa primeira cena. Na primeira cena que tem o titulo “O Nascimento do filho da puta”, a Dora fará uma menina grávida de 16 anos e a Luciana fará a mendiga catadora. É uma cena forte. A cena começa com música, a Lu e Dora em cortejo pequeno, ensaiado, com instrumentos, a Lu toca sax e a Dora poderá vir fazendo um batida e cantarolando, eu, entrando alheio ao fundo musical, apresento a cena poeticamente, como uma placa Brechtiana. Saio, elas se colocam na cena e damos início ao espetáculo. Eu farei funções deste tipo no decorrer do espetáculo. Estamos escrevendo está cena nos cenas curtas do Galpão Cine Horto. Hoje, depois do encontro com a Milagros, nós batemos um papo para acertar ponteiros e entramos para sala de ensaio para fazer um trabalho de improviso que durou uma hora. Estou começando sempre estes improvisos no escuro, com música de fundo e alguns objetos espalhados pelo chão. A idéia é que elas se concentrem para o trabalho e depois, cada uma no seu tempo vai buscando o estado ou os estados de cada personagem, a partir do corpo, da relação com o espaço, os objetos e o imaginário. Hoje a missão para a Dora era saborear esta menina de apenas de 16 anos, grávida, sozinha na rua, com fome e já sentindo as dores do parto. Para a Luciana a missão era construir com os objetos uma casa de rua e se relacionar com o ambiente criado dentro de ambiente. O dentro, aquilo que ela construiu para delimitar seu espaço na cidade e o fora, as coisas que se vai encontrando. Foi uma hora de poesia. Muitos momentos que já são reveladores da nossa cena. Amanha vamos fazer um trabalho com o texto, ler e conversar e ler mais e conversar mais até descobrir os tempos de cada momento. Estou puramente otimistas, mas isto é o que eu sou. O besouro vôo por otimismo, se dependesse da lógica não voava. Eu faço arte por puro otimismo. Sigamos. O Brasil volta ao normal só depois do carnaval, por tanto agora é sem sair de cima. Beijos e coragem.

Terça-feira – dia 03/03

Fizemos uma leitura do primeiro texto. Conversamos, eu, Lu e Dora, para tentar encontrar os motivos de cada personagem, a seqüência da historia. Estamos descobrindo que a mascara/catadora é a protagonista. A moradora de rua observa a própria historia, sua trajetória até o momento onde se encontra. Estaria ela morrendo e vendo seu filme passar diante de si? A personagem grávida seria ela mesma quando menina? O que vem depois? São questões que estamos debulhando. Foram importantes descobertas.

Quarta-feira – dia 04/03

Resolvemos trabalhar na sala de casa. Uma produção totalmente independente tem estes problemas. Por falta de espaço para ensaio fizemos o trabalho de capoeira com a Maíra na sala de nossa casa. A capoeira neste trabalho ainda é preparação corporal. Para cena ainda estamos pesquisando como incorporar a capoeira como forma, movimento. Uma coisa já está clara, o jogo da capoeira é ótimo para ativar no ator a atenção necessária, consciência espacial e relação, além da expansão do raciocínio por conta da improvisação do jogo. A Maíra é ótima instrutora, foi um retorno doloroso, porém necessário. Precisamos manter a regularidade até o fim do trabalho. Decidimos não estipular uma data fixa para a estréia, nosso teto, a priori, é Junho. É importante não queimar etapas no processo de pesquisa e montagem. Estamos compondo o espetáculo com o cuidado devido. A dramaturgia está sendo alimentada a cada encontro. Sigamos.

Quinta-feira – dia 05/03

Hoje, depois de uma pausa para viagens e carnaval, voltamos a trabalhar com a Kátia Kouto, nossa preparadora vocal. Seguiremos firmes com o importante trabalho vocal. Estamos trabalhando com sustentação, respiração, capacidade e controle. Este suporte é imprescindível ao ator, sobre tudo para trabalhar na rua, para que sua voz tenha potência e uma longa existência. Hoje trabalhamos a respiração intercostal, expandindo a costela, a musculatura, tirando a respiração do peito e empurrando o umbigo para dentro na expiração. Parece simples, teoricamente. Na verdade é uma forma voluntaria para aumentar a capacidade vocal. A Kátia pode explicar melhor (rsrsrsrsr). Sem duvida alguma este trabalho com a Kátia será um suporte importante para nosso trabalho. A partir daquilo que estamos criando ela saberá como instrumentar melhor as atrizes. No decorrer do processo o suporte vocal aumentará nossa possibilidade vocal, controlando agudos e graves, colaborando com o que se pretende criar em momentos específicos, como no parto, por exemplo. A cena que estamos trabalhando se colocarmos porcentagem emoção, já começa em 80%. A menina grávida de nove meses está sentindo as dores do parto, com medo, fome, frio, se sentindo abandonada, imaginem que ela já está na rua desde que soube que estava grávida, quando foi expulsa de casa pela própria mãe. A cena é preparação para o parto, o parto é complicado e ela ali sozinha. Assim começa nossa cena. Estamos trabalhando com improvisação para tentar alcançar este lugar dramático. Para exigir da voz é preciso prepara-la e isso a Kátia está fazendo maravilhosamente bem. Saímos da casa da Kátia mais conscientes e com bastante exercícios para fazer até a próxima quinta-feira. Nossa agenda da semana agora é a seguinte:

Segunda-feira: Trabalho de cena no cine horto
Terça-feira: Trabalho e pesquisa na rua (pequenas cenas, observação e intervenções)
Quarta-feira: Trabalho de capoeira na rua
Quinta-feira: Trabalho de preparação vocal
Sexta-feira: Trabalho de cena no cine horto
Sábado e Domingo: Digestão

O Brasil volta ao normal só depois do carnaval – agora este trabalho entrará no fluxo necessário a construção artística. Sigamos com coragem sempre!

Sexta-feira – dia 06/03

O dia começou duro, pelo menos para mim, estava com um desanimo e me mantive calado até tirar forças para o trabalho. É assim mesmo a vida de artista pobre e resistente, “as vez falha”. Começamos às 10h, como combinado. Fomos para a sala 01, do cine horto, já temos muita intimidade com aquela sala por conta do Oficinão.
Todos os dias fazemos um alongamento, depois aquecemos a voz com as indicações da Kátia, depois fazemos um pouco de ritmo com a contagem que a Milagros nos aplicou e fazemos 05 minutos de ginga (capoeira) forte para animar o corpo. Depois desta introdução partimos para o trabalho de improvisação. Pedi para as duas ficarem de costas para mim, batizei a Dora de 01 e a Luciana de 02. Ao meu comando uma delas virava e começava uma história, uma de cada vez ia completando a historia e seguindo até finalizar. Depois, com as duas viradas para mim, elas tinham que contar uma historia, mas cada uma só podia dizer uma palavra por vez. Depois elas tinham que contar uma historia cada uma começando a frase em ordem alfabética, de A a Z. Foi um momento de jogo divertido. Partimos para improvisar cenas baseadas no nosso espetáculo. O primeiro tema era: “A mãe e a filha”. As duas tiveram cinco minutos para bolar a cena. Foi uma idéia bem bacana, que nos deu material de trabalho. Uma filha grávida (28 anos/Luciana) e uma mãe traída (Dora). A filha estava grávida do próprio pai. Entre risos e desconcentração chegamos ao final da cena. Fizemos a cena novamente desta vez com a Dora fazendo a filha e a Lu fazendo a mãe e prezando pela concentração. A informação nova é que a filha tinha apenas 15 anos. Fizemos a cena e foi bem bacana. No meio da cena antes da revelação de quem era o pai do bebe congelei as duas e disse que o pai era um traficante perigoso e que a menina deveria ser expulsa de casa. Foi forte a cena. Uma mãe de classe média que expulsa a filha de casa por estar grávida de um traficante. Depois repetimos a cena, desta vez com mais informações novas. A mãe (Lu) uma moradora de barraco na favela, com muitos filhos, acabada de trabalho, sem amor próprio, pois a vida tem sido dura. A filha, uma menina de 15 anos (Dora) que está grávida de um traficante local. Dei uma missão para cada uma delas sem que elas soubessem a missão uma da outra. Para Dora eu disse que ela deveria se aproximar da mãe o tempo todo e para a Luciana disse o contrario, para se afastar o tempo todo. As missões poderiam ser corrompidas, se a mãe manda a menina embora, faz com que a Dora tenha de manter distancia (isso dói), se a menina abraça a mãe e a Lu tem de se afastar (isso dói). A menina deveria ser expulsa de casa. Fizemos a cena e foi um ótimo dia de trabalho. Sem saber estavamos trabalhando na Genesis do personagem da Dora (a menina que pari na rua) e se a menina é a personagem da Lu (catadora) no passado, então é a Genesis das duas. Foi um dia produtivo. Sai com a sensação de que basta estar movimento para que não se esteja no mesmo lugar. Por maior que fosse o meu desanimo ou a cansaço das meninas, resistimos e finalizamos a semana com louvor e cheio de material para iniciar a próxima semana. Ótimo!

Vivo e cada vez mais que vivo, vivo.

Sigamos com coragem sempre em frente.

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